quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Corpo Fala: Obesidade



Este é primeiro artigo da série “O Corpo Fala”, no qual irei discutir, com embasamento científico, a gênese emocional de diversas doenças. O intuito é ajudar as pessoas que sofrem de uma determinada patologia e que, geralmente, costumam ter uma visão fragmentada sobre o ser humano, ou seja, a doença é vista como um mal puramente corporal – o que, hoje, pode ser considerado um grande equívoco.

A Obesidade vista de outro modo.  www.leandromotta.psc.br

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É “Só um corpo”

A obesidade, atualmente, é uma condição frequente e problemática em diversos países, incluindo o Brasil. Aqui, quase metade dos brasileiros adultos sofrem com peso em excesso, com maior prevalência no sexo feminino. Além dos problemas individuais, a obesidade, hoje, é um grave problema de saúde pública, uma vez que a doença pode ter como consequência o surgimento de patologias cardiovasculares (Gigante, 2006).

Durante muito tempo se pensou que a gênese da obesidade estaria somente na genética, nos hábitos alimentares, exclusivamente, e no corpo, na biologia. Isso ocorreu porque a física clássica newtoniana, que esteve ao lado do fundamento científico, considera o materialismo na forma de observar o homem, bem como a visão filosófica de Descartes contribuiu para a crença separatista: a mente seria de outra natureza do corpo, não havendo qualquer tipo de relação entre essas duas entidades. No entanto, o surgimento da medicina psicossomática, em paralelo com a psicanálise, altera este quadro, quando Groddeck escreve “O livro disso”, afirmando que todas as doenças possuem um significado simbólico. Todas as doenças, de acordo com tal psicanalista, seriam psicossomáticas (1984). Mal sabia Groddeck que a neurociência confirmaria os postulados inferidos sobre psicossomática, há anos atrás.

Fatores Psicológicos www.leandromotta.psc.br

A realidade da psicossomática em obesidade ganha maior destaque no fim do século XX, onde diversos autores indicam que a doença poderia estar relacionada como um indicativo de transtorno de imagem do corpo. A imagem corporal (IC) refere-se como cada sujeito vê o próprio corpo; no caso do sobrepeso, há uma dificuldade em reconhecer o real peso. Isso é constatado na maioria dos obesos. Assim como comportamento de passividade e submissão, bem como o uso da alimentação como castigo, ou seja, no caso dos obesos, o excesso da comida pode ser caracterizado como autopunição e, também, como defesa. Em psicossomática, frequentemente, tem-se relacionado a gordura com proteção – ela traz uma sensação de proteção física e até mesmo de proteção psicológica (Barros, 1990).

Refúgio e Solidão www.leandromotta.psc.br

Ainda, há de ser ressaltado, que mediante o desenvolvimento da obesidade, há a constatação de um refúgio na comida, desenvolvendo um processo de solidão, uma vez que o excesso de gordura poderia representar uma dessexualização (Igoin, 1987).

Fatores Familiares www.leandromotta.psc.br

Diversos autores da psicanálise correlacionaram a obesidade com uma complicada relação materna, uma vez que a alimentação do bebê decorre de um processo que envolve uma relação de afeto entre o seio e a construção psíquica-emocional, que se dá paralelamente, à alimentação, através dos mecanismos de introjeção, onde há uma incorporação dos valores dos pais e da sociedade, que são internalizados. Nesse momento, de construção de imagem corporal, a mãe do obeso, por não compreender seu apelo, responde com a alimentação, diante de qualquer demanda. Dessa forma, o excesso de gordura poderia representar o excesso da mãe (Kelner, 2004).

Realidade Virtual www.leandromotta.psc.br

Paciente em tratamento com a Realidade Virtual. www.leandromotta.psc.br

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Os estudos modernos da neurociência demonstram que o cérebro possui pouco ou nenhum discernimento entre realidade objetiva e imaginação (Stephan, 1995). Tal fato possibilita um tratamento virtual, através de uma realidade construída virtualmente que, com o auxílio tecnológico, podem promover a neuroplasticidade, e assim a mudança comportamental desejada no paciente com transtorno alimentar. Esse tipo de terapia é denominado de Realidade Virtual, sendo um tratamento promissor com resultados de sucesso para fobias e outros tipos de transtornos. Geralmente, ele vem acompanhado de terapia cognitivo-comportamental. No caso da obesidade, o tratamento consiste em utilizar um capacete de realidade virtual (head-motend VR). Em cerca de 10 sessões, o paciente é confrontado com imagens que podem ocasionar ansiedade, como por exemplo, uma foto do seu próprio corpo. Então, o terapeuta realiza perguntas no momento exato, e, com o auxílio da terapia comportamental, o indivíduo pode mudar a forma como observa seu corpo, alterando usa imagem corporal que, até então, poderia estar distorcida, ocasionando uma mudança comportamental e, consequentemente, uma mudança dos hábitos alimentares, para que o emagrecimento aconteça (Riva, 2005).

Tratamento multidisciplinar www.leandromotta.psc.br

Não é nenhuma novidade que o padrão de beleza, presente em nossa sociedade, pode contribuir para uma busca desenfreada pela magreza. Qualquer indivíduo que conviva socialmente, será atravessado por determinados ideais – sejam eles corporais, sociais, ou psicológicos. A busca do peso perfeito gera um grande estresse coletivo e certa desconfiança no próprio corpo, o que pode contribuir para uma desarmonia do indivíduo como um todo, que constantemente se vê como algo imperfeito. Dessa forma, gerando a construção de uma baixa autoestima, que contribui para que o obeso tenha maior dificuldade em manter novos hábitos alimentares. A mudança da situação do obeso exige uma mudança comportamental, caso contrário, estará fadado a buscar inúmeras dietas sem sucesso. Logo, o tratamento da obesidade exige a multidisciplinaridade, com médicos, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, uma vez que a sua causa é multifatorial. A origem envolve a genética, fatores ambientais e comportamentais, questões psicológicas, como, por exemplo, a perda de um ente querido, ansiedade e separação conjugal (Machado, 2002). O que não se pode é achar que a obesidade é um mal meramente corporal, referente apenas à hábitos alimentares equivocados. Fazer isso é negar a realidade humana, e isso é tudo que os obesos não precisam.

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